Por que Miguel Nicolelis está Errado quanto à Educação
Quais os pontos cegos e viéses do neurocientista brasileiro
Vi um vídeo do neuroscientista Miguel Nicolelis onde ele fala que tecnologias digitais e IAs prejudicam o desenvolvimento cognitivo humano. No mesmo vídeo ele menciona a educação da Finlândia, uma das melhores do mundo, onde se aboliu tecnologias digitais da educação básica, usando apenas papel e caneta no ensino.
Essa é uma visão recorrente na história diante de inovações como calculadora, e geralmente defendida por especialistas ou cientistas renomados em seus campos.
Claro, eu obviamente discordo 100% dessa visão. Crianças inevitavelmente irão aprender usando tecnologias digitais. Mas, vamos explorar essa questão sob três lentes: 1) acesso, 2) metodologia e o mais importante, 3) sistema educacional.
1. Acesso
Quando você remove as tecnologias digitais do ensino, você está literalmente removendo o acesso à educação de qualidade para bilhões de pessoas no mundo que não têm a possibilidade de ter a presença de professores de qualidade em sua região. O que é a esmagadora maioria da população mundial.
Aliás, está foi uma das motivações por trás da criação da Khan Academy, uma plataforma digital gratuita que educa milhões de crianças por ano.
Tecnologias digitais não é somente uma nova forma de aprendizado. É um canal de acesso ao conhecimento, que antes não existia. Ter a presença física de um professor competente é um luxo que apenas famílias ricas podem bancar. Ou seja, quando removemos essa tecnologia do processo, estamos aumentando a desigualdade social.
Essa visão acontece entre cientistas geralmente porque eles não tem experiência com o business e não entendem a dificuldade de distribuição de uma teoria. Chegar em modelos de educação efetivos não é algo tão difícil. Agora, criar uma estratégia economicamente viável de distribuição em escala desse modelo, é um desafio completamente diferente. Claro, todos nós gostaríamos que cada criança do Brasil tivesse acesso aos professores da Finlândia, mas como podemos observar, não chegamos sequer perto.
Quanto você teria de pagar a um professor para morar no Interior do Amazonas ou de Tocantis para dar aulas presenciais para 12 crianças?
Mas, digamos que isso fosse possível? Realmente seria o ideal?
2. Metodologia
O vídeo também destaca que estudos revelaram que metodologias digitais não são tão eficazes quanto as metodologias analógicas. Mas, a pergunta que fica é, quais metodologias digitais?
Nós vivemos em um sistema legal extremamente limitante quanto a inovações educacionais para crianças. Qualquer iniciativa privada de educação deve seguir as rigorosas regras da agência reguladora local, aqui, o MEC. Ou seja, as iniciativas que usam computadores e internet, estão restritas às premissas das metodologias ultrapassadas do século 20.
Você não irá melhorar a educação sem desafiar premissas fundamentais, como divisão do ensino em disciplinas, turmas de mesma idade que evoluem na mesma velocidade, quais os habilidades a serem desenvolvidas, etc.
Vamos analisar um exemplo bem absurdo, mas didático.
Imagine que você quisesse usar tecnologias digitais para encontrar parceiros e iniciar relacionamentos. O problema é que existe uma lei obrigando a presença das partes nos encontros. Ou seja, você estaria no bar com a pessoa usando celular para conversar com ela, e chegaria a conclusão que aquilo não funciona.
Óbvio, a premissa da tecnologia digital para relacionamento é que você pode romper com as limitações geográficas e acessar dimensões na comunicação que antes não eram possíveis, como se conectar por interesses, manter uma conversa mais profunda por mais tempo, etc. Isso não reduz o poder da presença física. Ao contrário, potencializa os encontros presenciais. É uma nova dimensão, e não algo conflitante.
Na educação é a mesma lógica. Precisamos de centenas e milhares de iniciativas que combinem diferentes abordagens de aprendizado, desde digital até analógica, para chegarmos em soluções extremamente engajadoras e eficazes como a Synthesis e o KitKit School.
E essa noção nos leva para o terceiro ponto.
3. Monopólio
Hoje a educação é um monopólio estatal. Debater qual é a melhor metodologia educacional para a população deveria ser tão bizarra quanto debater qual dieta deveria ser padrão e obrigatória para todas as crianças.
Essa ideia de educação homogênea, decidida por um board centralizado de burocratas não faz mais sentido. Você quer matricular seu filho em uma escola que ensina apenas com papel e caneta? Excelente. Você quer contratar uma escola que usa IA para ensinar matemática, como a Synthesis? Excelente também.
A discussão que deveríamos ter não é sobre qual a melhor metodologia a ser imposta na população. Mas sim sobre criar um sistema livre que permita diversas metodologias emergirem, onde os pais possam escolher qual adotar para a realidade do seu filho. Afinal, as pessoas são diferentes. Cada criança tem um talento, aprende numa velocidade específica, e desempenha melhor sobre diferentes abordagens. Mais prático, mais teórico, com viés artístico, tecnológico, empreendedor, científico e assim por diante.
Essa visão de que educação deve ser provida exclusivamente pelo Estado e que toda e qualquer iniciativa concorrente (principalmente infantil) deve ser criminalizada, não faz sentido, muito menos na era digital. Ainda mais em países como o Brasil cuja educação está nas últimas posições dos rankings de qualidade. Impor um modelo monopolista de educação que mantém crianças semi-analfabetas e sem saber o básico de matemática mesmo após concluirem o ensino médio, enquanto dissemina essa visão romântica de educação com papel e caneta, é uma das ideias mais perversas que existem.
Com Internet e agora IA, essa é a melhor oportunidade de possibilitarmos que jovens excluídos possam aprender de forma gratuita e com extrema qualidade, quebrando as restrições geográficas até então intransponíveis.
Liberdade para escolher: opt in. Muito bom.