Tokenização - Um Guia Completo, Acessível e Ilustrado Sobre o Maior Fenômeno da Web3
Entendendo os cripto ativos.
Token é uma das expressões mais recorrentes no mundo cripto.
Cripto-token, tokens fungíveis, tokens não-fungíveis, tokenização e por aí vai.
Mas este é um conceito amplo que precede a Web3.
Então, antes de entrarmos no universo cripto, vamos entender seu significado.
Token nada mais é que a representação de um ativo, bem ou algo que tenha valor, tangível ou intangível.
A palavra principal aqui é: representação.
Essa representação pode se dar na forma de um documento com uma identificação, um ticket, um registro digital em um sistema, um registro em uma planilha, ou diversos outros formatos.
Além disso, geralmente, os token são vinculados a algum tipo de contrato (redigido ou implícito) responsável por definir as regras acerca dos tokens.
Alguns exemplos.
Uma empresa é uma entidade legal abstrata cujas quotas (frações da organização) são representadas através de tokens no formato de certificados que chamamos de ações. O contrato é responsável por definir as regras aos proprietários, como, direito a dividendos, voto na empresa, condições de venda do token, etc.
Se você é um usuário de cartão de crédito, seus pontos acumulados são tokens digitais, registrados no sistema do Banco, que representam uma moeda que lhe concede acesso a benefícios, como milhas aéreas.
Ou ainda se você realiza a compra de uma reserva de um quarto de hotel, seu recibo é uma espécie de token que representa seu direito de hospedagem, seguindo as regras pré-estabelecidas durante a contratação, como condições de cancelamento e reagendamento.
E também pode ser algo muito mais simples, como a ficha do parque de diversão que você compra no caixa e depois troca por um cachorro-quente na barraca. Neste caso, pelo baixo valor e efemeridade do token, o contrato é implícito entre a empresa e o cliente.
Até mesmo ativos não tangíveis podem ser representados por tokens, como uma bandeira que representa e captura o valor da cultura local.
Portanto, tokens em geral são compostos por um contrato + o token em si, que pode ser um documento, um registro online ou qualquer instrumento que identifique aquele token e o vincule ao seu proprietário.
E os cripto tokens?
Eles têm a mesmíssima função detalhada anteriormente, porém usando Blockchains para criação do token, e registro da propriedade.
Ao invés de se criar um documento físico assinado, ou um registro em um banco de dados privado, ou ainda imprimir um ticket para identificação do ativo vinculado à seu dono, usa-se uma Blockchain.
Dessa forma, tanto o contrato quanto o token em si, são nativos digitais.
O contrato, ao invés de ser um instrumento legal baseado em papel e processos jurídicos, é uma aplicação na Blockchain, também chamado de smartcontract.
Essa aplicação tem a mesma função do contrato analógico: definir as regras de emissão, de uso e de transferência de propriedade dos cripto tokens, porém através de códigos de programação.
Obs: Muitos cripto tokens ainda podem depender também da legislação local, como propriedade intelectual, etc.
Os cripto tokens, por sua vez, são tokens cuja identificação do ativo é registrada na Blockchain, geralmente composta por um número, data de criação, proprietário atual e, dependendo do tipo do token, outros metadados, como referência para um arquivo.
Ou seja, tokenização, no contexto de Web3, é o processo de se criar tokens para qualquer tipo de ativo (físico ou digital) usando Blockchains e explorando os atributos únicos dessa tecnologia: imutabilidade, propriedade digital inconfiscável e aplicações autônomas (smartcontracts).
É um processo onde, pela primeira vez na história, é possível se criar um token digital cujo proprietário tem total controle sobre o token que representa seu ativo, podendo transacioná-lo livremente.
Como Funciona
Tentar visualizar como funciona a criação de tokens em Blockchains pode ser um pouco abstrato para quem não tem background em tecnologia.
Mas, na realidade, o processo é muito similar à criação de uma tabela numa Planilha do Google. Porém uma Super Planilha com recursos de imutabilidade, autonomia e registro de propriedade digital.
Leia nosso Guia sobre Blockchain para entender como funciona em detalhes essa Super Planilha.
Então, imagine que você quer tokenizar o direito a folgas extras na sua empresa. Ou seja, recompensar os funcionários com créditos que eles podem trocar por folgas quando quiserem, durante 1 ano.
Você poderia usar algum sistema para fazer o controle de uso dos créditos, ou imprimir vouchers e entregar para cada funcionário, ou ainda usar uma planilha aberta. Mas nenhuma dessas alternativas soam ideais.
Um sistema tornaria o processo pouco transparente, uma vez que ninguém realmente sabe quantos créditos cada funcionário ganhou, o que pode gerar ruídos na empresa.
Vouchers físicos tem o problema logístico de impressão, distribuição e controle dos saldos, além de não manter registro histórico nenhum.
E uma planilha, embora pudesse ser aberta e transparente, não monitora eficientemente o histórico de uso dos créditos e pode também gerar ruídos internos devido a alterações indevidas.
Dessa forma você decide criar tokens na Blockchain e distribuir para os funcionários. Assim, você terceiriza para a Blockchain a gestão da propriedade dos tokens, e o histórico de transações e uso de cada crédito.
Então, você cria uma conta na Blockchain do Ethereum, cria um smartcontract (similar a uma fórmula ou script numa planilha), e emite os tokens vinculados ao endereço da empresa. Literalmente cria do zero o total de tokens como faria numa célula de planilha comum.
O segundo passo seria solicitar que os funcionários criassem suas próprias contas, que na prática significa simplesmente baixar uma carteira digital e enviar os endereços para a empresa.
Com posse dos endereços, você distribui igualmente os tokens e compartilha com a empresa o endereço do contrato na Blockchain, para que todos possa acompanhar os saldos com transparência.
O contrato tem as regras de uso, que basicamente é a transferência do token para o endereço da empresa.
Mas, somente o dono daquele token pode realizar essa transferência.
Uma vez que os tokens foram transferidos para os funcionários, nem mesmo a empresa pode alterar o saldo dos créditos ou tirar o sistema (contrato) do ar.
Essa é a mágica da tokenização na Web3.
E como a aplicação roda de forma autônoma e neutra na Blockchain, os funcionários podem ainda criar seus próprios smartcontracts expandindo a funcionalidade do token.
Como muitos funcionários não tem interesse em folgas extras, enquanto outros precisam de mais folgas, algumas pessoas criam uma nova aplicação chamada Trasferir Crédito onde é possível qualquer funcionário transferir os tokens para qualquer outro usuário.
Isso gera um mercado secundário de créditos, onde as pessoas podem negociar valores pelos seus tokens e transferir para os compradores, ou simplesmente doar gratuitamente.
E como funcionaria para tokenizar uma arte gráfica, uma fotografia ou outro ativo digital único?
O processo é o mesmo, porém o token tem alguns metadados associados à identificação.
Por exemplo, se você é um fotógrafo e quer tokenizar suas fotos, basta criar uma aplicação na Blockchain, criar o token vinculado a imagem da foto, e atribuir sua propriedade para sua própria conta (ou de outro usuário).
O dono do token pode usá-lo livremente, inclusive vendê-lo no mercado secundário.
E você (ou qualquer outro empreendedor) pode criar utilidade para o token, como acesso a canais privados.
Tipos de Cripto Tokens
A inovação da Web3 possibilitou o surgimento de diversos tipos de tokens, com muito mais sofisticação e possibilidades de inovação que os tokens baseados em contratos legais analógicos.
Existem dois tipos de cripto tokens: os fungíveis (ativos que podem ser trocados entre si, como ações e o dinheiro) e os não-fungíveis (aqueles de representação única, como imóveis e peças de arte).
Vamos analisar alguns tipo se tokens fungíveis.
1. Criptomoedas: são os tokens nativos das Blockchains.
Alguns exemplos são BTC (Bitcoin), Zcash, Litecoin, Ether (Ethereum) e centenas de outras.
Cada uma dessas criptomoedas possui sua Blockchain específica, ou seja, um tipo de Super Planilha com listas de contas com seus respectivos saldos. Além disso, cada super planilha tem suas regras de criação e transferência dos tokens.
Bitcoin, Zcash e Litecoin fazem parte das Blockchains de primeira geração. Ou seja, é uma super planilha com a única função de ter um token e ser usado como moeda ou similar. Você não pode criar novas aplicações ou tokens nessas Blockchains. Você apenas usa o token nativo.
Já Ethereum, Solana e diversos outros, são blockchains (App Blockchains) de segunda geração que além de terem seu token nativo, permitem que os usuário criem seus próprios cripto tokens e fórmulas (aplicações/smartcontracts), que é nosso foco por aqui.
2. Tokens de protocolos: diversas aplicações autônomas e descentralizas (comumente chamados de protocolos) nas App Blockchains emitem seus próprios tokens que representam utilidade e governança sobre suas plataformas. É o caso da Uniswap que é uma aplicação autônoma responsável pela câmbio de múltiplos tokens e criptomoedas. O token dessa aplicação é o UNI e ele é usado como ferramenta de governança do protocolo. Ou seja, os donos desses tokens podem participar do futuro da aplicação.
3. Tokens de DAOs (organizações descentralizadas): são tokens de organizações nativas de Blockchains, cuja função é similar às ações de empresas convencionais, porém com muito mais flexibilidade, liquidez e utilidade. Cada organização define as regras de uso do token (via smartcontract) e atribui utilidade a eles, como receber dividendos e participar da governança.
Por fim, os tokens não-fungíveis, ou NFTs. São os tokens de ativos que tem valor individual e não podem ser trocados igualmente por outro. Por exemplo, um imóvel, uma arte, ou uma camiseta original com a assinatura real do atleta, etc.
4. Os NFTs podem representar ativos do mundo físico, ou seja, na Super Planilha haverá uma identificação que conecte esse registro digital ao item físico, seja um documento, um número de série, código de barra ou outra identificação.
Há também os NFTs nativos digitais, ou seja, que não representam um ativo físico, por exemplo, os domínios descentralizados (peerbase.eth), que são endereços na Internet para os quais pode-se enviar cripto e até mesmo acessar páginas web.
Ou ainda itens colecionáveis, no formato de vídeo, fotos, imagens, textos e músicas, que são identificados na Blockchain e tem a mídia vinculada ao token.
Existem inúmeras outras implicações e inovações em torno dos cripto tokens, mas deixaremos elas para os próximos artigos.
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