O Brasil tem uma cultura excessivamente estatista, e por essa razão, somos uma nação incapaz de pensar soluções sociais que não passem necessariamente pelas mãos da Política.
Este é o único framework pelo qual tentamos resolver problemas complexos.
E soluções políticas, no regime democrático atual, por definição, envolvem coerção em algum nível, seja por taxação, leis de obrigação ou proibição, censuras, etc.
O repertório criativo de políticos, eleitores, jornalistas e sociedade em geral nunca extrapola a velha canetada.
E claro, para alguns casos essas políticas sempre precisarão existir.
No entanto, para a maioria dos problemas críticos que enfrentamos a melhor solução NÃO está nas mãos do Estado.
Para grande parte dos problemas a solução se dá através de tecnologia, inovação e colaboração.
A questão de fake-news e fact-checking é um excelente exemplo.
De um lado temos uma instituição política (ministro do STF) acumulando poder extremo e definindo que conteúdo online é verdade e qual deve ser removido das plataformas.
De outro temos, essa solução de fact-checking descentralizado no Twitter, onde os usuários anexam contexto ao conteúdo, e a rede avalia.
Qual delas é mais eficaz e qual gera menos risco sistêmico na democracia? Fácil responder né?
A solução do Twitter está muito longe de ser a ideal, mas já é uma grande evolução. E o mais importante, sem violar direitos humanos (liberdade de expressão) e sem acumular poder na mão de pessoas ou instituições.
Então, por que ainda nossos debates não envolvem soluções tecnológicas como essa, e apenas uma dicotomia burra de censurar ou não censurar.
O problema é que, como sociedade, não temos repertório tecnológico para vislumbrar, muito menos debater, esse tipo de solução.
Nem a sociedade civil, nem as instituições têm conhecimento ou vivência com tecnologia.
Nossa Mídia não noticia, e nosso sistema educacional não educa, sobre inovações digitais.
Somos praticamente analfabetos em Internet, e já vivemos nela há quase 3 décadas.
Assim, sem esses fundamentos em tecnologia, a única ferramenta que o mainstream possui para debater problemas complexos é a política estatal. O que é uma sandice.
Primeiro, porque soluções políticas usualmente são antiéticas e ineficazes.
Segundo, que esse viés apenas aumenta a legitimidade da política atual, e consequentemente aumenta o acúmulo de poder, que desencadeia em corrupção e mais violação de direitos humanos.
No entanto, muitas pessoas viram o olho ao ler sobre sociedades digitais e descentralizadas, como algo utópico ou distante da realidade brasileira.
"Ah, mas no Brasil não funciona. Somos muito pobres. Fomos colonizados. Somos muito grandes" e bla bla bla.
Bem, a Índia é 6x maior que o Brasil, também era colônia (Inglesa) e é muito mais pobre que nós. E ainda assim tornou-se referência mundial em inovação digital, e em fonte de talentos em tecnologia e produção de mídia.
Taiwan (35 milhões de habitantes) teve uma das melhores estratégias para combater a pandemia. Não usou censura em redes sociais nem lockdowns.
Apenas inovação, transparência radical, colaboração em escala e muita tecnologia.
Portanto, educação em tecnologia é ultra mega importante para um país que almeja prosperar.
Ter fluência em inovações digitais é um pré requisito básico para o futuro, inclusive (e talvez principalmente) para a política do futuro.
Plataformas digitais (centralizadas e descentralizadas) já são a infraestrutura da sociedade e da economia no século 21. Será também da política.
Dominá-las é obrigação de quem quer ter uma participação social ativa, e não ser apenas espectador.