Dia 24 de junho a Worldcoin foi oficialmente lançada. Com direito a NFT comemorativo
Mas, como não poderia ser diferente, algumas pessoas estão realmente surtando sobre uma potencial vigilância-massificada-globalista-distópica.
E embora eu seja simpático a um sistema imunológico social vigilante a iniciativas centralizadoras e autoritárias, o ceticismo contra a Worldcoin não é resultante desse fenômeno. Pelo contrário, é uma resposta hostil e negativa sem nenhuma fundamentação na realidade.
Vamos entender.
A Worldcoin é um projeto de ID digital. É uma tecnologia que tenta garantir que as contas digitais criadas sejam vinculadas a um (e apenas um) ser humano.
Mas isso não é novidade, certo? Os serviços governamentais há muito tempo têm processos de registro e identificação de cidadãos.
Quando nascemos, recebemos do governo um ID (Certidão de Nascimento e posteriormente RG) e nos tornamos oficialmente cidadão daquele país. Ou seja, sua impressão digital é registrada pelo governo e seus dados são vinculados a ela: ID, nome, foto, filiação, naturalidade, etc. E à medida que crescemos, vamos agregando a nossa identidade novos documentos: CPF, carteira de trabalho, diploma, passaporte, títo de eleitor, CNH, bem como registros vinculados a eles, como as informações na declaração de renda, suas infrações de trânsito, histórico profissional, e uma infinidade de outros dados.
Esse processo por si só já seria ordens de magnitude mais invasivo, obscuro e frágil que o processo de identificação da Worldcoin. Afinal, você não tem nenhum controle sobre seus dados e a segurança é inexistente. Vazamentos não são raros de acontecer. E, claro, sem contar todos os vazamentos e invasões de privacidade que nunca ficaremos ciente.
Mas esta é apenas a ponta do iceberg. Nos últimas décadas essa fragilidade sistêmica aumentou drasticamente devido a transição da sociedade para o digital.
Se antes para acessar meia dúzia de informações desatualizadas de algum cidadão era necessário ir pessoalmente a uma repartição pública empoeirada vasculhar pastas, hoje basta um clique de botão para se ter acesso às informações de milhões de pessoas, em um nível de detalhe inimaginável. Afinal, hoje, a cada minuto online você atualiza sua identidade digital com novas informações.
Toda vez que você interage com algum serviço digital cujo login está associado a sua identidade, ou seja, que exige algum processo de KYC (quem nunca tirou selfie e enviou foto de documento para abrir conta em app financeiro?), você está registrando informações pessoais em bancos de dados privados os quais você não tem nenhum controle. Transações financeiras, sites visitados, pessoas que conversou, compras, lugares que frequentou (GPS), e mais uma infinidade de eventos cotidianos.
Mesmo quem já tem a consciência dessa realidade e evita navegar logado com a conta do gmail, por exemplo, ainda terá seus registros de navegações gravados nas operadoras de internet.
O cliente de CPF X acessou o site Y no dia Z.
Sim, a menos que você use uma VPN e aplicações sofisticadas de privacidade, sua vida estará registrada em bancos de dados espalhados pelo mundo.
E mesmo no caso de um usuário extremamente cauteloso, há situações onde simplesmente não há alternativa. Você precisa declarar imposto de renda. Você precisa abrir conta bancária e transacionar em algum nível; trabalhar e usar os sistemas que a empresa exige; estar nas redes sociais; tirar fotos e mostrar documentos para acessar prédios comerciais. E assim por diante.
Ok, e qual o meu ponto?
Meu ponto é que o projeto da Worldcoin sequer chega perto desse nível de coleta de informação. O projeto simplesmente faz a leitura da sua íris, transforma essa informação em um ID digital e grava na blockchain. Esse id digital não está vinculado a nenhuma informação pessoal sua. Mesmo quem tem acesso a esse ID não consegue chegar na informação biométria de origem, graças as mágicas da criptografia. Não há foto, nem documento legal, sem selfie, não tem endereço, não tem nada vinculado ao cidadão.
E o melhor, esse ID estará armazenado em um banco de dados público. Em uma blockchain. O qual apenas você pode controlar com sua chave privada, sua carteira digital.
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Se você tem receio dessa tecnologia, então você já deveria ter surtado diante da nossa realidade tecnológica de identificação governamental. Worldcoin é uma evolução de múltiplas ordens de magnitude em todas as dimensões possíveis.
Acessibilidade: qualquer pessoa do mundo que tenha acesso a um smartphone e esteja próximo a um leitor, poderá ter um ID.
Privacidade: o ID não é vinculado a sua identidade legal e você pode escolher quando usá-la ou não.
Interoperabilidade: como foi criada na Ethereum, não tem vínculo com nenhuma jurisdição e poderá terá compatibilidade com qualquer aplicação online, globalmente.
UBI: de novo, como usa Ethereum, já tem nativamente disponível um canal financeiro que pode ser usado para distribuir recompensa para os usuários, sem precisar violar a privacidade de ninguém.
Sem falar em programabilidade, registro de propriedade humana de ativos digitais, resistência a ataques sybil (para votações) e muito mais.
Portanto, Worldcoin não é uma distopia. É exatamente o oposto. É uma tentativa de escaparmos da atual distopia na qual já vivemos. De uma realidade de completa falta de controle sobre nossos documentos e dados pessoais.
A melhor maneira de se avaliar uma tecnologia nunca é traçando uma comparação das suas características com um cenário idealizado. Mas sim, comparando-se com as tecnologias estabelecidas que ela visa substituir.
E quando fazemos a comparação do sistema de ID governamental com a Worldcoin (ou qualquer outra solução descentralizada), facilmente constatamos a brutal superioridade das soluções Web3 .