Twitter Blue Check
Duas reflexões sobre a discussão do momento
O selo de verificação do Twitter se tornou um dos assuntos mais discutidos do momento.
E esse fenômeno é muito mais profundo do que o esperneio de celebridades e jornalistas ao perderem seu Blue Check.
Eu analiso esse movimento sob duas óticas.
1. A imprevisibilidade e o poder da evolução tecnológica
Twitter saiu de aplicativo usado por adolescentes, 15 anos atrás, para se tornar a principal plataforma de comunicação geopolítica do mundo e a infraestrutura de autenticidade de identidade digital global.
Nem o tecnólogo mais otimista, nem os fundadores da empresa, nem escritores de ficção científica, ninguém em sã consciência poderia prever a brutal relevância que o Twitter teria 15 anos após sua fundação. E aqui estamos nós.
Twitter foi o palco e catalizador de diversos eventos históricos, como a Primavera Árabe, a eleição de Obama (e posteriores presidentes), bem como impeachments e movimentos culturais impulsionados por hashtags, como #Metoo.
A nossa tremenda dificuldade em projetar evoluções tecnológicas exponenciais continuará nos surpreendendo no médio e longo prazo. Cripto, IA, Biotech, VR, Startup Societies, e, honestamente, tudo relacionado a digitização da sociedade, irá produzir as mais imprevisíveis transformações sociais nos próximos anos.
2. Identidade Digital
Embora eu particularmente esteja gostando do desmantelamento da velha estrutura política do Twitter, que havia sido capturado por uma ideologia política específica, sendo ferramenta de censura do governo americano, ainda acho que terceirizar para uma empresa privada o papel de emissora e autenticadora de identidade digital global é algo extremamente imprudente.
Essa mudança abruta nas regras do selo de verificação apenas evidencia a falta de neutralidade da organização. O usuário havia passado por um processo, conquistado a verificação da sua identidade, e de forma unilateral e arbitrária, perdeu o selo que autentificava seu nome como oficial.
E, sim, para o Twitter, como empresa privada que precisa de um modelo de negócios para sobreviver no mercado, esse movimento é inteligente e compreensível. Mas o fato é que algo tão valioso e importante quanto nossa identidade digital - que hoje é mais importante e valiosa que nossa identidade legal - não pode ficar vulnerável a decisões de executivos e a oscilações estratégicas.
A perda do Blue Check apenas evidencia mais uma vez a importância das infraestruturas digitais públicas descentralizadas (Web3), pois é um ambiente neutro, global, e aberto para armazenarmos e controlarmos nossos ativos mais valiosos, como dinheiro, identidade, grafo social, reputação e assim por diante.
Por exemplo, eu possuo o domínio peerbase.eth na Blockchain do Ethereum, que representa meu endereço financeiro global. Qualquer pessoa com acesso a internet pode receber ou me enviar cripto através desse endereço, e nenhuma entidade política ou econômica pode impedir essa transação de acontecer. Esse ativo - o domínio - está vinculado a minha conta na Blockchain e apenas eu, dono das chaves, posso transferi-lo ou vendê-lo para outra pessoa.
Celebridades estão sentindo na pele uma versão muito sutil de problemas extremamente graves que milhões de pessoas (não tão famosas) passam diariamente.
Ser impedido da noite para o dia de receber pagamentos online; não conseguir abrir uma conta bancária por não ter documentos de identidade locais; protestantes que têm seus ativos congelados; Ou ainda artistas que não conseguem capturar valor sobre seu trabalho digital porque não tem acesso a uma estrutura jurídica para registrar propriedade intelectual e reivindicar royalties.
Lentamente a importância das plataformas descentralizadas vai se tornando mais óbvia e inevitável.
Não é toa que projetos de identidade descentralizada tem crescido rapidamente, como o Proof of Humanity.
Ter a garantia de que nenhum poder político e econômico irá arbitrariamente mudar as regras ou te excluir do jogo é fundamental para ativos pessoais e financeiros. Além, claro, de todas as propriedades tecnológicas que inaugura, como interoperabilidade - imagine nunca mais precisar preencher um formulário com seus dados pessoais, apenas se logar com seu perfil na Blockchain.
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