O futuro surreal para o qual ninguém está preparado
O primeiro passo para navegar em um mundo de disrupções simultâneas
A mente humana, da pessoa mais comum à mais extraordinária, rejeitará contundentemente mudanças abruptas nas premissas básicas da sociedade.
Esta é a nossa natureza. Difícil lutar contra.
A ideia de viver fora da caverna teve resistência na Pré-história.
A ideia de dominar a terra e poder estabelecer-se em uma região, abandonando o nomadismo, também encontrou resistência.
Desassociar Deus e o Estado.
Incluir a população comum nas decisões públicas através da Democracia.
Sair da área rural para viver nas cidades e trabalhar em indústrias.
Adotar a ciência na medicina ao invés de crenças religiosas.
Acostumar-se com cabos de alta tensão costurando cidades inteiras e paredes das casas.
Aceitar o transplante de órgãos.
Enxergar valor em um pedaço de papel oficial que representa ouro. E depois um pedaço de papel que não tem lastro em nada físico. E depois, ainda, em bytes em um computador que não tem lastro sequer no papel moeda.
Todas essas mudanças radicais de paradigmas, hoje aceitas como naturais, foram profundamente e insistentemente rejeitadas pela sociedade no momento em que surgiram.
De início, sequer cogitar qualquer uma dessas ideias soaria ridículo, e muitas vezes seria visto como blasfêmia merecedora da morte.
“Participação popular nas decisões da cidade? De quem foi essa ideia genial? Quer dizer que a opinião de uma faxineira tem o mesmo valor de a de um intelecutal? Quanta besteira. Democracia é uma utopia.”
“Usar órgãos de outras pessoas dentro do meu corpo? Você está brincando de Deus. E a alma como fica? Isso é coisa de bruxaria e não deveria jamais ser aceito.”
Mas a força motriz por trás de cada novo paradigma foi extremamente mais poderosa que qualquer narrativa opositora. Os benefícios, com o passar do tempo, mostravam-se sedutores demais se comparado às contrapartidas.
Hoje, as mudanças estão aceleradas. E o tempo para assimilação, aceitação e entendimento das novas premissas e tecnologias é infinitamente menor. Portanto, mais impactantes no nosso psicológico.
Exatamente por isso algumas ideias atuais soam completamente absurdas.
Dinheiro e gestão públicas feitos totalmente via inteligência coletiva, sem instituições como o Estado.
Uma educação desinstitucionalizada. E não falo de educação online. Falo sobre a total desescolarização, onde, em um mundo altamente automatizado, cada jovem percorrerá a jornada educacional que desejar (SE desejar) e aprenderá apenas aquilo que tiver interesse genuíno.
Propriedades e bens digitais representarão a maior parte da riqueza global, superando em múltiplas ordens de magnitude as propriedades físicas.
Realizar terapias genéticas para reverter o envelhecimento, com a possibilidade de viver para sempre.
Colonizar outros planetas.
Migrar sua consciência entre pessoas e robôs.
Todas essas transformações radicais na sociedade se darão dentro do século 21.
Todas elas serão testemunhadas de perto por quem está lendo este texto.
E nenhuma delas será de fácil aceitação. Nenhuma avançará sem ceticismo, sem zombaria, sem críticas e sem algum nível de desestabilização social.
Mas o fato é que nada irá parar tais movimentos. Nada impedirá a transformação profunda que cada uma dessas mudanças de premissas irá gerar na sociedade.
E aí, o que faremos diante desta realidade?
A resposta eu não sei.
Mas o primeiro passo com certeza é estar pelo menos consciente que estas disrupções vão acontecer numa velocidade monstruosa.
E que, naturalmente, nossa primeira reação a todas elas será a mesma dos nossos antepassados: negação, ceticismo e romantização do status quo.
Se você aceitar esta realidade já estará anos luz da maioria das pessoas, conseguindo enxergar inclusive as infinitas oportunidades que elas irão oferecer.
Te espero no futuro.