Com a revolução digital vimos surgir a primeira geração de plataformas de mídia social.
E com elas rapidamente presenciamos o surgimento do meme: capitalismo de vigilância (surveillance capitalism).
Plataformas monitorando seus dados, traçando seu perfil de consumo, acessando sua privacidade, influenciando seu comportamento e até ameaçando a democracia.
Capitalismo de vigilância.
Uma expressão cunhada na velocidade da luz.
Tão rápido quanto o próprio crescimento das plataformas.
No entanto, vigilância não é um fenômeno novo.
O famoso vazamento feito por Edward Snowden denunciando a massiva vigilância da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) sobre a população civil americana é apenas um dos milhares de exemplos.
Governos monitorando seus cidadãos é uma prática antiga, tanto em regimes autoritários quanto em democráticos.
Mas minha reflexão não é sobre esta prática condenável.
E sim sobre o diferente desenrolar de narrativas.
Quando empresas privadas estão no banco de réus, o conceito é Capitalismo de Vigilância.
Quando os governos são os protagonistas da violação de direitos humanos, não vemos surgir a Democracia de Vigilância ou Estado de Vigilância.
Por quê?
Porque nossos formadores de opinião, os donos das narrativas, por algum motivo são mais motivados a detratar o capitalismo do que instituições governamentais.
Pode parecer algo pequeno e sutil, mas ter a capacidade de cunhar tais conceitos e viralizar essas narrativas (enquanto ameniza outras) é muito poderoso, pois define a percepção das pessoas sobre nossas estruturas sociais.
De um lado aceitamos com mais facilidade abusos governamentais, e do outro apoiamos indiscriminadamente regulações e taxações abusivas contra todo e qualquer tipo de empresa.
Direitos humanos - como liberdade, privacidade e justiça - não devem ser relativizados baseados em qual Instituição a violou. Esses direitos devem ser buscados independente de ideologia política.
Entender as dinâmicas das criações de narrativas é um passo extremamente importante para se entender a realidade a sua volta.
E saber quebrá-las para enxergar suas nuances é pré-requisito para não ser apenas mais um eco de ideias recicladas.