A Real Inovação Da Uber Não Foi Tecnológica
E qual é a disrupção definitiva para desbloquear o progresso.
Uber não foi apenas uma inovação tecnológica.
Foi uma poderosa e incrível inovação legal.
Este é um dos insights mais importantes do fenômeno Uber, porém longe de ser devidamente debatido e apreciado.
Seu crescimento coordenado em centenas de cidades pelo mundo gerou inovações inéditas na regulação do transporte individualizado e na legislação trabalhista. Foi a quebra de um monopólio histórico que mantinha privilégios a taxistas e donos de frotas, e consequentemente gerava corrupção, um mercado negro de licenças, um serviço caro, estagnado e de péssima qualidade.
“Há um ano motorista do Uber, Alessandro Florêncio, de 32 anos, dirigiu táxi por quatro anos. Cansado de pagar 1.400 reais mensais pelo aluguel de um alvará, ele trocou o Cobalt branco pelo Fusion preto. “O táxi está todo errado desde o começo. O comércio de alvarás, a máfia dos pontos, os esquemas de frota… É tudo ilegal, mas é aberto. Todo mundo sabe: taxistas, fiscais, políticos, mas é isso. Não tem o que fazer”. Veja, 2016.
Como em todo monopólio, a indústria de táxis era composta por muita corrupção e recorrentemente visitava as páginas de investigação criminal, cujos processos obviamente tratavam os sintomas e não a doença subjacente.
Políticos e frotistas tinham em suas mãos uma máquina de fazer dinheiro. O primeiro era responsável por criar as barreiras artificiais, as regulações, gerando escassez de liçenças para favorecer insiders. Os frotistas - os insiders - por sua vez, recompensavam a proteção dos políticos de forma generosa compartilhando uma fatia do bolo. E assim a máquina se perpetuava.
“Quem quer rir, tem que fazer rir.” Major Rocha.
No Brasil a negociação de alvarás era prática comum. Um mercado paralelo criminoso acontecendo a céu aberto sem nenhuma previsão de transformação. Uma licença no Brasil podia chegar na casa de centenas de milhares de reais.
O Ministério Público do Estado de São Paulo investiga o comércio ilegal de alvarás desde 2011. Em dezenas de depoimentos, taxistas relatam que as práticas irregulares ocorrem sob o nariz dos agentes do Departamento de Transporte Público (DTP), ligado à secretaria municipal de Transporte. “Muitos detentores de alvarás são policiais, funcionários municipais, assessores parlamentares e outros agentes públicos. Muitas famílias têm dois ou mais alvarás em nome do marido, esposa e filhos e os alugam a terceiros”. O comércio é tão descarado que os jornais da categoria anunciam na seção de classificados a “transferência” de alvarás. Veja, 2016
Esta estrutura monopolista e corrupta não era exclusiva do Brasil. Era o padrão na esmagadora maiora das cidades ao redor do mundo, evidenciado pelos preços abusivos de licenças (taxi medallions) negociados no mercado negro e pelas recorrentes denúncias e flagrantes de corrupção sistêmica entre reguladores, políticos e donos de frotas de táxis.
Em Nova York, as medalhas de táxi ultrapassaram US$ 1 milhão. Em Boston, US$ 700.000. Em Filadélfia, US$ 400.000. Em Miami, US$ 300.000. Onde existem medalhas, elas superaram até mesmo o índice de ações Standard & Poor's 500. Em Chicago, o valor delas dobrou desde 2009. WaPo, 2014.
No entanto, o holofote sobre a Uber foi sempre direcionado em outras frentes.
A maioria das discussões relacionadas à ascenção dos aplicativos de transporte sob demanda gira em torno das novas features tecnológicas - GPS, pagamentos automáticos, sistema de avaliação - e da inovação do modelo de negócios, deixando totalmente de fora o principal fator deste fenômeno, as mudanças legislativas.
Você já parou para pensar que meia dúzia de palavras escritas em um pedaço de papel, as leis regulatórias, eram as responsáveis por disseminar corrupção e impedir o surgimento de soluções 10x melhores que as estabelecidas e um mercado multi bilionário?
Milhões de pessoas, que antes não podiam usar táxis pelo alto custo, nem como passageiros, muito menos como motoristas, devido ao alto custo das licenças, hoje são usuárias assíduas dos aplicativos nas duas pontas do marketplace. Uma simples mudança legal, conquistada à base de muita pressão, que abriu espaço para concorrência e permitiu a democratização de um serviço de extrema importante social.
Muitos motoristas da plataforma são profissionais excluídos do mercado de trabalho convencional. Profissionais que estavam desempregados há anos decorrente de uma legislação de trabalho ultrapassada que cria barreiras altíssimas para profissionais pouco qualificados. São idosos, imigrantes, jovens sem experiência, deficientes, ou pessoas desqualificadas, que hoje conseguem gerar uma renda digna para sua família apenas dirigindo pela cidade.
Se você está pensando, “ah, mas e a precarização do trabalho”, já abre este artigo em outra aba para derrubar esse mito.
A tecnologia mobile e suas propriedades revolucionárias, como internet 3G e GPS, combinadas com o poder de crescimento de uma startup talentosa, foram os propulsores que catalisaram essas transformações legais. Mas essas inovações tecnológicas não eram pré-requisitos para o surgimento das inovações na indústria de transporte individual. A única condição necessária para desbloquear inovação era um ambiente de liberdade econômica e baixa barreira regulatória. Ou seja, uma mudança legal abrindo o mercado para concorrência poderia ter extinguido todos os esquemas de corrupção na indústria, derrubado os preços e melhorado a qualidade do transporte individual décadas antes de o Uber surgir.
Por nossa sorte, vimos emergir as tecnologias móveis que, além de elevar drasticamente a qualidade do serviço, também ajudou a acelerar a quebra de leis injustas e criminosas.
Infelizmente, esta realidade de monopólios, estagnação, baixa qualidade e bloqueios artificiais de inovação não é exclusiva aos táxis. Ela permeia toda a indústria de serviços governamentais e suas ramificações, desde educação, saúde, segurança, infraestrutura, agências diversas, governança, transporte público. São centenas de trilhões em inovações e progresso que não existem porque o Estado está repleto de barreiras artificiais em forma de regulações e leis antiquadas.
Compare a evolução estratosférica nas indústrias com liberdade para inovação, como comunicação, mídia, educação adulta, transporte individual, comércio, entretenimento, com as indústrias estatais. Enquanto as primeiras viram saltos monumentais evolutivos, as últimas continuam estagnadas.
Coleta de lixo ainda é realizada por profissionais pendurados em caminhões; professores da rede pública (e privada aderente ao MEC) ainda dão aulas no mesmo modelo do final do século 19; nossas leis ainda são criadas de forma totalmente analógica sem nenhum método de gestão de riscos em sua implantação; o sistema médico e bancário são pesadelos burocráticos regulatórios que mantém-se estagnados por décadas; isso sem falar na infraestrutura das cidades, que apesar de um altíssimo orçamento à disposição, ainda não conseguem sequer evoluir na entrega de saneamento básico para a população.
Quando olhamos com atenção para os problemas mais significativos da humanidade, veremos que uma grande parcela deles existem não pela nossa incapacidade técnica em criar soluções. Na realidade, os problemas fundamentais estão na invisível e artificial, porém poderosa, barreira legal, regulatória e monopolista do Estado que não permite sequer a possibilidade da criação de iniciativas inovadoras.
Vivemos em uma sociedade onde é proibido inovar.
Para cada indústria anteriormente mencionada, há múltiplos “Ubers” que são impedidos de existir por burocracia e corrupção.
Por isso, a melhor estratégia para destravar a próxima era de inovações científicas e tecnológicas, e inaugurar uma onda de abundância nas próximas décadas, está justamente em disruptar nossa infraestrutura de governança.
Uma vez que as mentes mais inteligentes do mundo tem liberdade e segurança jurídica para inovar nas indústrias mais estagnadas da sociedade, veremos emergir soluções inimagináveis.
O século 21 é o século da revolução digital.
Mas ela só irá acontecer se removermos as barreiras de papel do caminho.
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