A principal variável na formação de uma comunidade ou nação nos séculos passados era a sua localização geográfica.
Você nascia em uma região, absorvia e influenciava a cultura, religião e os hábitos locais, e os transmitia para as próximas gerações.
Mas na última década, esse processo, que manteve-se intacto por milênios, transformou-se completamente.
Com a Internet, os grafos sociais mais importantes a que estamos inseridos existem online, e não fisicamente. As comunidades com as quais mais nos identificados são majoritariamente digitais, e não (apenas) presenciais. A distância mais importante no século 21 não é a geográfica, mas sim a geodésica, ou seja, a distância entre os nós de uma rede social (agora digital).
Uma vez que essas comunidades surgem online, sem restrições geográficas ou delimitações de fronteiras físicas, as culturas e até as nações começam a se formar primordialmente na Internet.
Mas essa nova dinâmica social levanta alguns problemas. Se as pessoas com as quais nos identificamos, se os hábitos culturais com os quais nos sentimos pertencentes, não são compartilhados pelas pessoas no nosso círculo social presencial, como a sociedade funciona? Se as instituições que frequentávamos e eram a grande fonte das nossas relações pessoais, como igreja, clubes, e até família e o trabalho, estão ou em declínio ou migraram para o digital, onde preencheremos nossas demandas por intimidade e profundidade?
Este fenômeno é tão recente quanto preocupante. Muitas pessoas gastam uma quantidade de tempo desproporcional online, e sentem-se isoladas no mundo físico. Moram sozinhas, não frequentam comunidades locais, não praticam nenhuma religião, não trabalham presencialmente.
Mas este é um período de transição.
Assim como a Internet foi a responsável pela fragmentação de instituições sociais, ela também será a fundação na qual criaremos novas comunidades presenciais.
Com a mobilidade proporcionada pela Internet e pelos smartphones, a capacidade de locomover-se entre espaços físicos aumentou significativamente.
Ou seja, uma vez que nosso grafo social, nosso trabalho, nossa educação, nosso dinheiro, e todos os nossos recursos mais valiosos estão na nuvem e nos acompanham para qualquer região do mundo, torna-se muito mais factível estabelecer comunidades físicas intencionais. Levar do mundo digital para o geográfico as pessoas com as quais temos afinidades e compartilhamos valores e visão de mundo.
No século 21 a formação de comunidades e até mesmo cidades não será mais determinada pela sua posição geográfica de nascimento. As culturas surgirão primeiro online e depois migrarão para o físico, provavelmente descentralizadas em diversos nós pelo mundo.
Imagine bairros pelo mundo de veganos. Ou de Crossfiteiros. Ou de bitcoiners. Ou cientísticas. Artistas. E assim por diante.
Estamos na primeira fase deste fenômeno caracterizado pela agregação digital dessas comunidades altamente alinhadas. A próxima fase, que já está ganhando tração, é o período de encontrar regiões geográficas e estabelecer-se presencialmente.
Bem-vindo à Era das Comunidades Intencionais.