3 abordagens liberais contra injustiça social
Apostar apenas no poder político para corrigir injustiças sociais pode ser um tiro no pé.
O poder político como principal meio de resolução de problemas sociais é um paradoxo.
Ele pode ser a solução para corrigir injustiças, mas também pode tornar-se a causa e agravamento de problemas sociais.
Pense no quão difícil foi mudar as leis de segregação racial nos Estados Unidos.
Se você acha que o poder econômico é difícil de mudar, imagine o poder político, com dinheiro infinito e o monopólio da violência (leis, exército, armas) ao seu lado. Quem já foi a qualquer manifestação sabe que não é fácil enfrentar cavalaria, bala de borracha e gás lacrimogênio para, por exemplo, reivindicar maiores salários para professores da rede pública.
Será que, na Era Digital, este é o melhor modelo de Democracia e Gestão Pública que podemos alcançar?
Para evitar cair na armadilha de legitimar e concentrar mais poder político na tentativa de resolver problemas sociais, listei abaixo 3 abordagens que considero ser mais sustentável, seguro e eficaz.
1. Agir local.
Levando educação, cultura, qualificação e renda a comunidades locais, é possível transformar realidades de populações periféricas e desprivilegiadas. Além disso, é importante sempre levantar questões estruturais, como racismo e machismo, para que a sociedade, geração após geração, seja mais consciente e menos preconceituosa.
E é exatamente isso que aconteceu exponencialmente nos últimos 10 anos, graças às redes sociais que deram voz e poder de alcance às minorias.
Em consequência do poder dessas novas narrativas periféricas, o mainstream, que até então não era acessível para disseminar estas vozes, começou a incorporar tais discursos e ações, seja através de publicidade, diversidade em eventos e empresas, rodas de conversa em programas de TV, etc.
2. Desenvolvimento tecnológico.
Existe um TED antigo que detalha como a invenção da máquina de lavar ajudou na autonomia das mulheres. Métodos contraceptivos também são um exemplo, que permitem que a mulher tenha mais autonomia.
Smartphone + Internet, como já mencionei, fez mais pelas minorias que qualquer governo. Disparado.
É através dessas tecnologias que houve inclusão política, social, financeira, econômica e cultural para boa parte dessas pessoas.
3. Pressão Política.
Esta é a parte mais delicada.
Na minha visão, todo o movimento político deveria focar em quebrar barreiras e dissolver estruturas que estejam impedindo a ascensão de grupos marginalizados e garantir a liberdade individual.
Por exemplo, como garantir que minorias e periféricos consigam sair da informalidade profissional?
É muito comum que empreendedores da periferia tenham seus produtos apreendidos (artesanato, alimentos, etc) por não terem licença da prefeitura. Ou simplesmente não conseguirem atender aos critérios burocráticos do governo para venderem seus produtos e serviços, e sobreviverem.
Pessoas mais privilegiadas, com acesso a contadores, advogados e dinheiro, não sofrem com isso. Essa é uma barreira gigante, e muitas vezes invisível, que contribui muito para a desigualdade social.
Liberdade econômica fundamental e pré-requisito para a evolução social de qualquer sociedade.
Neste cenário a pressão política seria necessária para remover os obstáculos artificiais que impedem ascensão social.
Somado a isto, programas de distribuição de renda, se feitos de forma transparente e direta (entregando dinheiro ao invés de serviços) podem ser uma estratégia eficaz também. Mas o ideal é que seja feita de forma voluntária, como durante a pandemia, que ultrapassou os R$ 6bi destinados a diversas famílias pelo Brasil. Caso contrário, torna-se um instrumento fácil de jogo político e corrupção.
A evolução sustentável sempre é lenta
Justiça social é um desafio complexo e não existe atalho nem bala de prata. Partidos políticos vão sempre tentar vender o sonho das soluções fáceis.
Projetos e ideias que geram resultados sustentáveis e positivos, levam décadas para serem desenvolvidos.
E sempre que a sociedade deixar-se levar pelos atalhos, pelas leis, regras, emendas, regulações arbitrárias, estará alimentando e concentrando um poder institucional e político, difícil de ser recuperado novamente no futuro.